domingo, 2 de maio de 2010

O fim último!



Coloco aqui um texto do jornalista João Pereira Coutinho que me enviou o meu pai. Ao enviar-me este texto o meu pai acompanhava o correio dizendo que não tinha a certeza se apioava ou discordava. Eu tenho a certeza que concordo quase palavra por palavra com o texto que agora transcrevo... E sei que sempre soube que o meu fim último é a felicidade. E creio que o meu pai também o sabe, por isso me enviou este texto!


Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que "o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"



Nota: Tenho um amigo que há tempos em conversa sobre a sua vida e o que poderia fazer dela me disse, depois de eu insistir várias vezes para que voltasse a tentar o caminho agora já tradicional do canudo na mão, que pela primeira vez estava feliz assim, tal como estava! Já na altura pensei que, de facto, os caminhos não têm que ser os convencionais, tem apenas que nos levar à felicidade!

3 comentários:

Anónimo disse...

Há muito que cheguei a essa conclusão!

Eu sou simplesmente eu e o Monsieur Montaigne tem o peso que tem, mas como as palavras são muito importantes discordo em juntar na mesma frase a palavra "felicidade" com a palavra "último".

A felicidade é o que rege a vida! É um facto que cada um encontra-a em coisas diferentes e essa diversidade permite colmatar as várias necessidades da sociedade. Pelo menos deveria ser assim, toda a gente feliz!

Se fosse reviewer do Sr sugeria que reformula-se a frase. A felicidade vem em primeiro, o resto surge naturalmente. Se fores feliz certamente que iras ser excelente em todos os aspectos.


***
P

Zé Rocha disse...

Claro filha, também comungo de muito do teor do texto, salvaguardando porém que, a felicidade não é algo de meramente hedonista, sendo também ela alimentada pelo trabalho e pelas responsabilidades que a vida nos vai colocando, até porque Felicidade está quase sempre nos antípodas de facilidade.

Moura disse...

Ser feliz não é sorrir apenas nem é sorrir sempre... Mas ser capaz de escolher os desafios, ultrapassá-los, rir quando já foram e esperar sempre por mais.

Ser feliz é teu. De mais ninguém. Não se vende, não se troca nem se empresta. Faz o teu caminho. Aí serás feliz!